16.09.2010
Jornal "Valor Econômico"
Caderno: Brasil
Empresários evitam tratar de setores sensíveis em jantar com UE
Marta Watanabe | De São Paulo
A CompartilharImprimirEnviar por e-mail Representantes de empresas levaram ontem ao comissário europeu para o comércio, Karel De Gucht, as suas preocupações gerais em relação a um acordo entre Mercosul e União Europeia (UE). Na conversa, em jantar na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), porém, evitou-se discutir a troca de ofertas e o impacto que um acordo pode ter em setores mais preocupados com a negociação, como o eletroeletrônico, no caso do Brasil, e o de produtos agrícolas, no caso da UE.
"As preocupações de setores que podem ser mais afetados fazem parte do processo e isso acontece toda vez que há acordo", diz Mario Marconini, diretor de negociações internacionais da Fiesp. Ele diz que a maior preocupação da indústria é fazer um bom acordo. Segundo ele, cerca de 75% da oferta industrial da União Europeia tende a não fazer grande diferença para os fabricantes nacionais porque não representaria condição diferenciada para produtos brasileiros.
Marconini lembra, porém, que há muito a discutir e que as negociações foram reabertas muito recentemente. Ele acredita ser possível que um acordo passe a vigorar a partir do segundo semestre de 2011, mas considera muito mais provável que a negociação dure mais um ou dois anos. Na sua visita ao Brasil, De Gucht declarou considerar factível a definição de um acordo até julho do próximo ano.
O representante da Coalização Empresarial Brasileira (CEB), Carlos Mariani, que também participou do jantar, diz que as indústrias pretendem cumprir o cronograma estabelecido na tentativa de fazer um acordo, apesar da correspondência que representantes da indústria enviaram em julho ao ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. Nessa carta, a coalização, explica, disse que a definição de um acordo entre os dois blocos deve levar em consideração condições conjunturais internas, como o real valorizado, incentivo relativamente pequeno aos exportadores, incerteza do comportamento dos mercados europeus e descompasso entre o crescimento dos mercados nos dois blocos.
"A indústria está interessada num acordo entre os dois blocos, mas é necessário prestar atenção nesses problemas ao longo da negociação", diz Mariani. Segundo ele, as conversas estão ainda em fase inicial sobre questões normativas do acordo. Os blocos ainda não começaram a estudar listas de ofertas de produtos.
Ontem, diz Mariani, representantes do segmento agroindustrial aproveitaram o jantar para apresentar a competitividade do setor. "Houve uma oportunidade para dizer ao comissário que o segmento agroindustrial brasileiro entende a ânsia dos países europeus pela autossuficiência alimentar. Mas o Brasil não pretende sufocar o mercado da UE. Pretende apenas ter participação compatível com o consumo europeu", diz.
Jornal "O Estado de S. Paulo"
Caderno: Economia
Brasil não vai fazer concessões em têxteis, automóveis e máquinas
Resistências devem limitar impacto de acordo comercial com outros dez países emergentes e o Mercosul
Jamil Chade, correspondente/Genebra
O Brasil não fará concessões no setor têxtil, automotivo e de bens de capital em acordo com outros dez países emergentes e o Mercosul. Nesta semana, diplomatas desses países tentam fechar em Genebra um entendimento comercial para ampliar o fluxo de exportações e dar um recado político de que o mundo em desenvolvimento não ficará aguardando um avanço da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Mas o impacto comercial do novo tratado deve ser limitado. O Brasil, principal incentivador do projeto, não aceitará reduzir tarifas de importação para os setores considerados sensíveis. Muitos dos demais países, como a Coreia do Sul e o Egito, rejeitam incluir produtos agrícolas na lista, impedindo a ampliação das exportações brasileiras.
No fim de 2009, ministros aproveitaram uma reunião em Genebra para anunciar um acordo Naquele momento, o anúncio serviu como arma para demonstrar que a culpa pelo fracasso de um tratado de liberalização maior seria dos países ricos.
Mas, ao trocar listas de produtos de cada pais, a constatação dos negociadores é de que muito vai ficar de fora. O projeto entre os emergentes foi lançado em São Paulo em 2004 por iniciativa do Brasil. O Itamaraty, desde então, teve de reduzir suas ambições para o que ficou conhecido como Rodada São Paulo. No lugar de um corte de 40% de tarifas entre os emergentes, o acordo estabeleceu uma redução de 20%.
A liberalização será válida para 70% do comércio de um país. Praticamente um a cada três produtos em cada país poderá continuar a ser protegido
Impacto. Há décadas os emergentes tentam um acordo. Nos anos 80, o mesmo projeto fracassou. Agora, a opção foi por um entendimento apenas para facilitar o comércio, e não para acabar com tarifas. No caso do Brasil, a hesitação em abrir ocorre diante da presença da Coreia do Sul, um importante exportador de veículos, e de exportadores de têxteis, como Egito e Paquistão.
O governo admite que, por enquanto, não sabe qual pode ser o impacto do acordo para as exportações nacionais. Há dois anos, o ex-embaixador do Brasil em Genebra, Clodoaldo Hugueney, chegou a dizer que o acordo poderia facilitar a exportação de cerca de 15% do total das vendas do País no exterior. A ONU também já fez seus cálculos. Mas deixou claro que as exportações asiáticas seriam as mais beneficiadas
Decisão da OMC pode prejudicar Embraer
Condenação dos subsídios dos EUA para a Boeing pode ser usada como precedente contra a empresa brasileira, que é acusada pela Bombardier
Jamil Chade, correspondente/Genebra
A Organização Mundial do Comércio (OMC) condenou os subsídios dos Estados Unidos à Boeing, abrindo precedente que ameaçaria os interesses da Embraer. A entidade máxima do comércio concluiu, a pedido dos europeus, que a empresa americana teria recebido recursos ilegais do Departamento de Defesa e da Nasa. Já a brasileira é acusada pela canadense Bombardier de receber o mesmo tipo de incentivo do setor militar brasileiro.
A decisão de ontem da OMC promete ter um impacto bem maior que apenas uma disputa entre americanos e europeus. Deve abrir caminho para novo acordo sobre subsídios que vai definir como empresas de todo o setor, inclusive a Embraer, poderão atuar na próxima década. A negociação viria em um momento crucial, no qual surgem novos concorrentes, como chineses, canadenses e brasileiros.
A Airbus, que iniciou o caso, já havia sido condenada pelo mesmo motivo há poucos meses. A OMC julgou que os recursos de governos europeus para o A380 eram ilegais. O resultado de ontem reequilibra o jogo, na disputa mais cara da história da OMC. "Esse resultado nos dá muita satisfação, tanto ao setor francês como ao europeu, preservando empregos e o futuro de nossa indústria", disse o ministro do Transporte da França, Dominique Bussereau. Para a UE, cerca de US$ 23 bilhões em subsídios à empresa americana foram mascarados por décadas na forma de pesquisa para a área de defesa.
Ontem, os europeus informaram que a OMC teria criticado os pagamentos à Boeing pela Nasa e pelo Departamento de Defesa, usados na pesquisa para criação do 787 Dreamliner. Além disso, isenções fiscais e incentivos dos Estados de Washington e Kansas de quase US$ 8 bilhões também foram condenados. A UE alega que esse dinheiro possibilitou à Boeing oferecer jatos mais baratos que a Airbus e, portanto, ganhar mercados.
Para especialistas ligados à Airbus, a condenação deve servir de alerta à Embraer, acusada pela Bombardier de se beneficiar de recursos do setor de defesa no Brasil. A empresa canadense diz que programas de cooperação entre a Embraer e o setor aeronáutico do País seriam, na realidade, uma forma de mascarar subsídios. A Airbus acredita que a Bombardier poderia considerar a condenação da Boeing um precedente em eventual caso contra o Brasil.
Ontem, diplomatas brasileiros confirmaram que o caso pode ter repercussão na relação entre a Embraer e a Bombardier. Há dez anos, as duas também levaram suas queixas à OMC. Assim como no caso Boeing-Airbus, ambas foram condenadas e tiveram de chegar a um acordo.
França ataca acordo com o Mercosul
Ministro francês diz que a Europa "não é o lixão de produtos agrícolas da América do Sul", reagindo a negociação com a União Europeia
Andrei Netto CORRESPONDENTE / PARIS - O Estado de S.Paulo
Duas semanas depois de o ministro da Indústria da França, Christian Estrosi, defender o protecionismo econômico, agora o ministro da Agricultura, Bruno Le Maire, vai mais longe: ele garantiu aos produtores rurais que a França vai lutar contra o acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul, cujas negociações estão em andamento nesta semana. A justificativa: "A Europa não é o lixão de produtos agrícolas da América do Sul".
As declarações foram feitas em Rennes, onde se realizava um salão de agricultura. Le Maire foi recebido por militantes de sindicatos agrícolas, que protestavam contra a queda da renda dos produtores rurais. Enquanto os sindicalistas entravam em confronto com a polícia, o ministro discursou para líderes rurais.
Na saída do encontro, Le Maire falou à imprensa. Defendeu uma "Europa firme" nas negociações entre a União Europeia e o Mercosul visando a um acordo de livre comércio, garantindo que pelo menos 15 países do bloco evitarão assiná-lo. "O agricultor não é moeda de troca. Não iremos adiante nas negociações com a Organização Mundial do Comércio (OMC), nem nas negociações com o Mercosul."
A seguir, Le Maire deixou claro que a resistência da França tinha endereço: "A Europa não é o vertedouro dos produtos agrícolas da América do Sul". Em referência indireta, o ministro do governo de Nicolas Sarkozy ainda ironizou o Brasil, país para o qual o Palácio do Eliseu tenta vender 35 aviões de caça fabricados na França, em decisão que segue na mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não podemos trocar carne bovina por Rafales."
Além de descartar o acordo com o Mercosul, o ministro ainda anunciou novos subsídios aos produtores franceses. Pecuaristas receberão nos próximos três anos ? 300 milhões em subsídios. O objetivo é reduzir as perdas agrícolas do país, onde a renda média teria caído 50% em 2009, segundo afirmam sindicatos e o Ministério da Agricultura.
Ao Estado, um assessor de Le Maire afirmou que as posições do ministro são apoiadas por 15 países da UE (leia texto nesta página). "A Europa já enfrenta um déficit na balança comercial agrícola de ? 25 bilhões em favor dos países do Mercosul", disse assessor. Contatada, a assessoria do Palácio do Eliseu não retornou aos pedidos de esclarecimentos sobre a posição do ministro.
Jornais dos Países Membros do Mercosul
Argentina "La Nación"
Sección: Economía
Para la UE, se superó el conflicto por las trabas a la importación
La delegación encabezada por De Gucht pidió que no se repitan, porque minan
La Unión Europea (UE) dio ayer por superado el entredicho con la Argentina por las trabas que había fijado la Secretaría de Comercio Interior contra la importación de productos alimenticios. No obstante, en reuniones reservadas, advirtió al Gobierno que ese tipo de medidas minan la confianza necesaria para poder seguir negociando un acuerdo de libre comercio entre la UE y el Mercosur.
El comisario de Comercio de la UE, Karel De Gucht, inició ayer una visita oficial a la Argentina, luego de su paso por Brasil, que actualmente ejerce la presidencia pro témpore del Mercosur. El funcionario, que ostenta un rango equivalente al de un ministro de la UE, mantuvo reuniones con el canciller, Héctor Timerman, y con la ministra de Industria, Débora Giorgi.
En esas reuniones, expresó que esperaba que la UE y el Mercosur logren avances "sustanciales" para llegar a un acuerdo en julio de 2011, pero que ya a fines de este año exista un intercambio de ofertas formales por parte de ambos bloques. La primera ronda de negociaciones (luego de la suspensión dictada en 2004) se produjo a fines de junio, en Buenos Aires. La próxima será entre el 11 y el 15 de octubre, en Bruselas.
En conferencia de prensa, De Gucht dijo que el bloque dejó atrás las críticas formuladas a fines de junio por las restricciones impuestas por la secretaría que conduce Guillermo Moreno, que llevaron a la cancelación de varios pedidos de importación de productos alimenticios. "Nosotros hemos criticado esta situación -dijo De Gucht-. Pero hoy estamos satisfechos de poder decir que no es más un asunto abierto. El gobierno argentino lo ha revertido."
En los primeros siete meses del año las importaciones provenientes de la UE crecieron 53%, mientras que las exportaciones no presentaron variación con respecto a igual período del año anterior.
El diplomático y ex viceprimer ministro belga también señaló que en sus reuniones con los ministros argentinos encontró un espíritu de cooperación "y de agenda positiva".
En la reunión con Timerman, los europeos le mencionaron que ya no tenían quejas de restricciones pendientes a las importaciones, aunque destacaron la necesidad de que no se vuelvan a repetir este tipo de medidas, que "no contribuyen a crear el marco de confianza necesario para negociar", según relató un importante miembro de la delegación de la UE que pidió no ser identificado.
En un comunicado de su ministerio, Giorgi afirmó que "no existen bloqueos a las importaciones de productos alimenticios de la Unión Europea", y que todas las medidas están dentro del marco de la Organización Mundial de Comercio. "No existen trabas formales, informales, ni de ningún tipo", agregó.
Con Timerman, por su parte, la delegación coincidió en "realizar una amplia tarea de promoción que dé lugar a la continuidad de las actuales corrientes de intercambio entre las dos partes", según un comunicado de la Cancillería.
El canciller aprovechó para comunicar formalmente a De Gucht la decisión argentina de dar por terminadas las negociaciones con la UE por la incorporación de Bulgaria y Rumania al bloque europeo, que prevé como compensación un incremento de 2000 toneladas de la cuota Hilton en el actual contingente de 28.000 toneladas durante los primeros cuatro años, y de 1500 toneladas a partir del quinto año. Además, se abrió un nuevo contingente de 200 toneladas adicionales de carne de búfalo.
La última reforma del Mercosur representa un retroceso
La reforma reciente de las estructuras arancelarias del Mercosur atenta contra nuestros intereses y objetivos de largo plazo. Afecta, centralmente, la organización económica y las reglas de juego que impulsó nuestra nación junto con Brasil, Uruguay y Paraguay, todos miembros fundantes del tratado regional.
Los acuerdos internacionales y áreas de integración entre diferentes países han sido una práctica muy importante en los últimos 30 años. La lógica detrás de la integración económica es, esencialmente, aumentar y facilitar la ampliación del mercado, para poder maximizar el uso de la ventaja de los recursos propios y poder integrar un mecanismo de especialización intraindustrial. Básicamente, para mejorar la eficiencia en la asignación de recursos, tratando de crear, en lugar de desviar, comercio.
Y esto sucede cuando surge un intercambio que no existía, mientras que se desvía comercio cuando se sustituyen proveedores del resto del mundo por los del propio acuerdo, a costos mayores que los que resultan de incorporar los bienes del oferente de extrazona.
Sin embargo, hay otros componentes y otras razones que han estado detrás de estos acuerdos, relacionados con la capacidad de generar un horizonte estable de reglas de juego, que no sea modificable por los lobbies internos o por las presiones domésticas corporativas.
En ese esquema, también se agregan otros atributos, que tienen que ver con el atractivo de la inversión extranjera, lo que constituye el factor más movilizador de la economía, pero que en general requiere ciertos puntos básicos: primero, mercados de suficiente tamaño. Segundo, reglas de juego estables. Y tercero, oportunidades de insertarse en el mundo con condiciones que respondan a datos estructurales y no a circunstanciales y arbitrarios subsidios o medidas promocionales.
En ese aspecto, también hay que destacar que la inversión extranjera es conveniente "sólo" cuando las reglas tributarias, arancelarias y de reembolsos que enfrenta hacen compatibles los precios internacionales de los bienes y servicios que producen con los precios domésticos.
En caso contrario, muchos años atrás, Carlos Díaz Alejandro probó que la acumulación de recursos podía ser empobrecedora, porque los subsidios podrían forzar a inversiones de baja rentabilidad social pero sostener artificialmente la rentabilidad privada.
Existen también otras dimensiones en los acuerdos comerciales, por ejemplo las que estuvieron detrás de la estrategia de la Unión Europea, del Nafta o de los países del sudeste asiático.
Y esto tiene que ver con tres aspectos muy significativos. El primero es abrir mercados. No es que la Argentina "se abre" a otros países, sino que a cambio "consigue ingresar" en mercados donde de otro modo sería sometida a tratos diferenciales.
En segundo lugar, el hecho de promover estos acuerdos genera reputación, es decir, produce normas que son costosas de remover. En nuestro caso, por ejemplo, como tienen carácter constitucional, son más significativas que las leyes domésticas, y ello crea un entramado que asegura y alarga el horizonte de inversión. Esto afecta la inversión pública, la inversión extranjera, pero, sobre todo, desarrolla un clima de negocios previsible y perdurable.
Lo que puede ganar un país previsible respecto de otro imprevisible es fácil de ver en las mediciones de riesgo país, y parte de ello depende de las circunstancias fiscales y de financiamiento, pero parte también de las reglas de juego y de las políticas que se llevan adelante.
En último lugar, la cooperación en todos estos aspectos crea el ambiente para trabajar también en otras dimensiones, como en defensa, en seguridad, en la lucha contra el crimen organizado, el narcotráfico y el terrorismo, todas dimensiones vitales en el mundo moderno.
Por eso, esta última reforma del Mercosur representa un marcado retroceso. Allí, el gobierno argentino "logró" que se aceptara que los impuestos a la exportación (retenciones) formen parte de una decisión "autónoma" de cada Estado, y si algo tenía de valioso el Mercosur era, justamente, que obligaba a todos sus miembros a seguir normas horizontales y muy homogéneas.
Además, los diferentes impuestos a la exportación lo que generan es un mecanismo de asignación de recursos muy nocivo para el largo plazo que hasta esta reforma, aunque la Argentina los aplicaba, era una violación del Tratado.
Ahora lo que se hizo es cambiar radicalmente la estructura arancelaria de la zona. Perdimos el mecanismo de previsibilidad y de reglas de juego que estaba implícito en el Mercosur. Por eso, la reforma fue profundamente negativa, no sólo para la eficiencia en la asignación de recursos, para la credibilidad y el atractivo del área, sino que perjudica también los intereses de la Argentina en el largo plazo.
Ricardo López Murphy
Paraguay "La Nación"
Sección: Negócios
Las dudas de Francia sobre posible acuerdo entre la UE y el Mercosur
La mayor competitividad agrícola del Cono Sur desplazaría del mercado francés a los países más pobres del mundo.
Llamada 1:
La PAC no ha sido creada con intención proteccionista, sino como un dispositivo de acompañamiento en la apertura de las agriculturas nacionales.
Llamada 2:
Es responsabilidad de los dirigentes políticos proteger a sus ciudadanos contra los efectos de la especulación con los precios agrícolas.
En vísperas de la Cumbre que debía reunir el 18 de mayo del 2010 en Madrid a los jefes de Estado de América Latina y de la Unión Europea, la presidencia española de la UE anunció su voluntad de sacar provecho de esta Cumbre para dar un nuevo impulso a la negociación de un acuerdo de asociación con el Mercosur, incluyendo la creación de una zona de libre comercio entre las dos regiones. En ese momento, Francia manifestó sus dudas con relación a dicha reactivación.
Aún si una quincena de estados miembros de la UE han, en los días siguientes, apoyado su posición, la actitud de Francia ha sido cuestionada por algunos sectores de opinión, como susceptible de entorpecer el progreso en los intercambios entre las dos regiones: Francia ha sido inmediatamente señalada por ciertos medios, sospechada de ser un país proteccionista, luchando por mantener una Política Agrícola Común (PAC) europea, la misma denunciada por ser un dispositivo puramente proteccionista que penaliza los intercambios internacionales, y del cual ella sería la principal beneficiaria.
En un país como el Paraguay, donde cerca de un tercio del PIB proviene de la agricultura o de la ganadería, y que busca naturalmente (y legítimamente) oportunidades de comercialización de sus productos en el mercado europeo, me parece útil explicar los motivos que han llevado a Francia a tomar esa posición, y al mismo tiempo, relativizar las consecuencias para el Paraguay.
Se debe primeramente recordar en cuál contexto se ha originado la Política Agrícola Común europea.
Europa había sido entre 1939 y 1945 uno de los principales campos de batalla de la Segunda Guerra Mundial. Durante este período y en los años siguientes, la agricultura de los países de la región había sido dramáticamente debilitada. Las poblaciones habían sufrido un racionamiento drástico en el consumo de sus productos básicos como la leche, la manteca, el pan, el azúcar, los aceites, la harina de trigo, la carne, etcétera.
Al terminarse la guerra, cuando seis países europeos fundaron la Comunidad Económica Europea, también llamada Mercado Común Europeo (1957) con el objeto de eliminar los obstáculos existentes en sus intercambios, los agricultores de cada uno de los seis países fueron en un primer tiempo reticentes, con temor frente a la competencia europea. Ningún país quería abdicar su soberanía alimentaria y comprometerse a tomar una vía que podría llevarlo, nuevamente, a comprometer la seguridad alimentaria de sus ciudadanos.
Por este motivo, la apertura del Mercado Común a los productos agrícolas solo pudo concretarse en 1964. Esta apertura del mercado interno europeo fue de entrada, condicionada a la implementación de una Política Agrícola Común, en forma simultánea.
Como fue recordado recientemente por Louis Michel, comisario europeo encargado del desarrollo y de la ayuda humanitaria (el mismo de nacionalidad belga), "la filosofía general de la PAC – que se instala al concluir la Segunda Guerra Mundial– es de poner todo en obra para que Europa pueda producir de manera suficiente para alimentar a su propia población".
Con el fin de garantizar a largo plazo esta seguridad y esta soberanía alimentaria, la PAC implementa medidas que tienden a modernizar las explotaciones a través del acceso a la formación y al crédito entre otras cosas, y también a proteger los ingresos de los agricultores para permitirles adaptarse al choque de la competencia de los productos de los otros países del Mercado Común.
Creo útil recalcar aquí que, por lo tanto, la PAC no ha sido creada con una intención proteccionista hacia el resto del mundo, sino como un dispositivo de acompañamiento en la apertura de las agriculturas nacionales, quienes estaban hasta entonces encerradas en los límites de territorios exiguos, hacia el mercado intraeuropeo. En unos decenios, este mercado común de los productos agrícolas ha sido expandido a la casi totalidad de los países de Europa: la UE ya no cuenta hoy con seis países miembros sino con veintisiete desde el 2007 y entre ellos los productos agrícolas circulan con absoluta libertad. En el 2004 y en 2007, abriendo sus puertas a doce países del antiguo bloque socialista, los cuales se han visto beneficiado instantáneamente con esta libre circulación de productos agrícolas, la UE ha contribuido fuertemente a la estabilidad mundial. Ella constituye hoy un mercado unificado de 500 millones de ciudadanos.
Se debe tener mucha mala fe para ver, en esta evolución extremadamente rápida, la marca de algún tipo de proteccionismo de parte de los países que han dado impulso a este proceso. Al contrario, Francia reivindica el orgullo de haber estado, con Alemania, Bélgica, Holanda, Italia y Luxemburgo, en el origen de la constitución de uno de los espacios de libre comercio más completos existentes actualmente en el mundo, y del mayor mercado mundial.
Especulación
Los mecanismos de estabilización que existen sobre este mercado integrado son incluso, más allá de este, un factor poderoso para la estabilización de los precios a nivel mundial, como se pudo observar en el momento de especulación sobre los precios de materias primas agrícolas en el 2008. Este rol estabilizador es esencial en un mundo donde los productos agrícolas no son únicamente productos de la naturaleza y del trabajo sino también instrumentos de la especulación financiera. Frente a la misma (en el 2008 hizo duplicar los precios de ciertas materias primas agrícolas), los objetivos de seguridad y de soberanía alimentaria, fundamentos de la Política Agrícola Común, se tornan más que nunca de absoluta actualidad. Los precios de las materias primas agrícolas, por razones estructurales, se mantienen orientados hacia el alza de forma duradera. Esto puede favorecer el retorno de episodios especulativos. Es responsabilidad de los dirigentes políticos proteger a sus ciudadanos contra los efectos de tales fenómenos
En el sector agrícola, todos los países miembros del espacio europeo han conocido una evolución acelerada de sus estructuras y de su productividad. Para referirnos a un solo indicador, Francia cuenta hoy con 770.000 agricultores solamente, o sea un poco más de 2% de la población activa, contra 25% que existían hace 50 años. Las superficies agrícolas han disminuido en el mismo período a 5 millones de Há, o sea 15% de las tierras explotadas al inicio del período. Y el conjunto de la red agroalimentaria alcanza solamente el 3,5% del PIB nacional. Al mismo tiempo, Francia se volvió el primer exportador mundial de productos agrícolas transformados: esto significa claramente que para ella no se trata de competir con los países productores de materias primas, sino de conquistar mercados para sus productos con alto valor agregado.
Esta liberalización a un ritmo extraordinariamente rápido del mercado interno europeo, nadie la puede negar. ¿Pero en qué influye en las relaciones con el resto del mundo y por qué Francia expresa sus dudas sobre una reactivación de las negociaciones con el Mercosur ?
Se debe recordar aquí que, en forma paralela con la construcción de un gran mercado interior, la UE ha afirmado, desde hace tiempo, su solidaridad con el grupo de los países ACP (África-Caribe-Pacífico), entre los cuales se encuentran los países menos adelantados (PMA) es decir los más pobres del mundo. El PIB por habitante en algunos de esos países no pasa de US$ 300 por año. Su situación no es en nada similar a la de los países del Mercosur.
Por este motivo, sus productos agrícolas ingresan al mercado europeo libres de aranceles, en virtud de lo que fue llamado, durante mucho tiempo, "los acuerdos de Lomé". Ningún otro mercado en el mundo les resulta tan accesible. Allí comercian el 80% de sus exportaciones agrícolas. Por consiguiente, cualquier ventaja aduanera acordada a otro grupo de países genera dificultades considerables.
En el caso de los países del Mercosur que disponen de agriculturas poderosas, entre las más productivas del mundo, no queda ninguna duda que sus productos estarían substituyendo rápidamente, en varios sectores, a los productos de las ACP en el mercado europeo. Las consecuencias para esos países serían dramáticas.
Por lo tanto, la negociación con el Mercosur no puede estar aislada de las relaciones de la UE con el resto del mundo. Es una de las razones por las cuales la UE, unánime, ha decidido dar prioridad a la negociación multilateral (Ronda de Doha) en el seno de la OMC, con respecto a la negociación con el Mercosur. Con su intento de reactivación de la negociación con el Mercosur en ocasión de la Cumbre de Madrid, sin que el Mercosur haya hecho conocer el menor signo de una mayor integración, ni de una oferta mejorada, España ha tomado una iniciativa que solo podía despertar discordancias del lado europeo, y cuyos resultados serán necesariamente limitados.
Exportaciones paraguayas
El Paraguay, que desde el 1 de enero del 2009 es favorecido por un acceso privilegiado sobre el mercado europeo para 6.300 de sus productos (SPG+), y que pudo reiniciar desde agosto del 2008 sus entregas de carne (cuota Hilton) es beneficiado por un tratamiento diferenciado de parte de la UE. Sus exportaciones hacia la UE, compuestas por 94% de productos agrícolas, han aumentado 42% en el 2007 y 15% en el 2008. El 90% de estas exportaciones han ingresado a Europa con el beneficio de la cláusula de la nación la más favorable (derecho aduanero cero). Estos datos fueron proveídos por la Delegación de la Comisión de la UE en el Paraguay.
Tal vez los mismos permitan reubicar en su verdadero contexto las agitaciones mediáticas del momento.
Jornal “Folha de São Paulo” Caderno: Mundo Crise reduz fluxo de imigrantes ilegais para EUA Entrada de indocumentados caiu quase dois terços em 2007-2009 em comparação ao período entre 2000-2005 É a primeira inversão no crescimento da população ilegal nos EUA em duas décadas, aponta instituto Pew A crise econômica que estourou nos EUA em 2008 teve como consequência uma redução na entrada de imigrantes ilegais no país. Segundo estudo do Pew Hispanic Center, braço do renomado Pew Research Center, o fluxo anual de indocumentados foi quase dois terços menor de março de 2007 a março de 2009, na comparação com a primeira metade da década. O declínio contribuiu para a queda total da população de ilegais vivendo nos EUA -8% menos em 2009, em relação a 2007. "Essa diminuição representa a primeira inversão significativa no crescimento dessa população nas últimas duas décadas", afirma o estudo, baseado em dados do governo americano. Além da crise, da qual o país ainda não se recuperou,
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