Jornal “Valor Econômico”
Caderno: Brasil
Prioridades na relação com o exterior
Sergio Leo
Os ministérios da Fazenda e de Relações Exteriores dividirão, neste fim de governo, o protagonismo na atuação da política externa em matéria econômica. Em um campo, pelo menos, nenhum dos dois ministérios deverá exercer muita atividade: as negociações multilaterais de comércio, na OMC, ou negociações entre Mercosul e outros parceiros, como União Europeia, estão em modo inercial: haverá reuniões de técnicos e autoridades para discutir o assunto, mas ninguém em Brasília põe muita fé em resultados práticos.
O mesmo não acontecerá nas negociações sobre as ameaças de ressurgimento da crise financeira. As reuniões para debater o tema não só contarão até com a presença do presidente Lula, que vai à Coreia para a reunião do G-20, em novembro, como têm recebido forte atenção, especialmente do Ministério da Fazenda. Trata-se de descobrir como aproveitar esse esforço diplomático, de coordenação de políticas econômicas, para evitar a "guerra cambial" denunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ou, dada a inflexibilidade dos governos envolvidos, tentar reduzir os danos desse salve-se quem puder em que se transformaram as políticas econômicas mundiais.
Não será possível atribuir ao fantasioso antiamericanismo do Itamaraty o novo foco potencial de atritos entre Brasil e EUA: os americanos querem aproveitar a reunião do G-20 para concentrar forças na pressão contra a China, acusada de depreciar artificialmente sua moeda e inundar de produtos baratos os mercados mundiais. Os brasileiros, embora também temam as hordas de importados chineses, veem com maior preocupação, no momento, as medidas dos EUA para combater o próprio desaquecimento econômico.
No esforço para estimular o consumo e evitar a deflação, os EUA combinam política de juros baixíssimos e derrame de dólares na economia, sob a forma de recompra de títulos públicos ou pela liberação de depósitos dos bancos retidos pela autoridade monetária. É uma política que desvalorizará ainda mais o dólar; um favor aos exportadores americanos e uma ameaça a produtores de países como o Brasil.
O Brasil vai ao G-20 com um discurso contrário às medidas unilaterais e descoordenadas, e favorável a maior diálogo e articulação entre as políticas monetárias dos países, para uma estratégia global contra a crise. O ambiente de desconfianças e falta de disposição pode ser medido, porém, pelo constrangimento recente das autoridades anfitriãs, na Coreia, acusadas pelo Japão de não ter autoridade para presidir o encontro do G-20. Tudo porque o governo coreano partiu para políticas ativas de intervenção no mercado de câmbio tentando evitar a valorização da moeda nacional.
Com a guerra cambial em período de movimentação de tropas, os esforços internacionais parecem pouco produtivos, o que aumenta a importância das políticas internas para tratar do problema. No Brasil, a maior discussão é sobre como reduzir a taxa de juros, que atrai investidores, inflaciona o país de moeda estrangeira e valoriza ainda mais o real, agravando a perda de competitividade nacional. Os candidatos à Presidência da República são vagos e às vezes contraditórios ao falar do problema, que parece exigir algum aperto nos gastos públicos e maior controle da entrada de capital no país.
Um dos pontos interessantes que deveriam ser cobrados dos candidatos nos próximos debates públicos é a política para o BNDES, forte componente da estratégia de crescimento do atual governo. Economistas ligados aos tucanos acusam o banco de sabotar a política monetária, ao emprestar com juros subsidiados a poucos investidores, obrigando o Banco Central a elevar mais do que deveria as taxas de juros cobradas do restante, para manter a eficácia da política de contenção da demanda inflacionária. No campo governista, não se fala em mudanças nessa política, enquanto personagens ligados à candidata se alternam entre anunciar uma iminente política de contenção de gastos e declarar que ela não é tão necessária assim.
Nesse cenário de suspeitas e choques entre governos, lá fora, e de indefinição e disputa eleitoral, no país, faz bem o Itamaraty em aproveitar o pouco tempo que resta ao governo atual insistindo em reforçar os laços entre os países do Mercosul, antes que as tendências de fragmentação comprometam o frágil projeto de bloco regional.
Como antecipou o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, ao Valor, o Brasil, na presidência temporária do Mercosul, quer fixar neste ano cronogramas e tomar decisões para aumentar a coordenação e integração, entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, em matéria de tarifas de importação, regras para serviços, compras governamentais e investimentos. É muito, mas ainda insuficiente para conter as ameaças à competitividade das exportações brasileiras, que terão de buscar nas políticas internas as medidas para enfrentar a concorrência estrangeira.
Caderno: Internacional
Cresce interesse de investidores americanos pela AL
Os legisladores americanos consomem muito tempo debatendo relações comerciais com a China. Mas importadoras e exportadoras nos EUA sondadas num levantamento mostram um foco diferente: estão considerando cada vez mais a América Latina para oportunidades comerciais.
O crescimento econômico no Brasil e em outros países sul-americanos tornou a região a mais promissora para comércio exterior nos próximos seis meses, segundo um relatório elaborado pelo HSBC, o maior banco da Europa. O banco conduziu um levantamento com mais de 5 mil companhias, incluindo 300 nos EUA.
Na América Latina, "o consumo interno está em alta, e aqueles países exportam muito", disse William Nowicki, vice-presidente executivo do HSBC em Nova York. "O comércio exterior continua um dos propulsores estratégicos do crescimento econômico global."
O terceiro levantamento realizado pelo HSBC para avaliar a confiança no comércio exterior mostra que 30% das empresas dos EUA sondadas creem que a América Latina oferece a melhor oportunidade para crescimento ao longo dos próximos seis meses; 25% identificaram a China; e 15%, o Canadá.
A expansão da economia da América Latina é estimada em 4,8% neste ano, após queda de 1,8% em 2009, segundo projetou o FMI em julho. A economia do Brasil deve crescer 7,1% e a do México, de 4,5%.
O Brasil disse que está tentando fortalecer os seus laços comerciais com os EUA, em parte para contrapor a expansão do comércio em matérias-primas com a China, que substituiu os EUA como seu principal parceiro comercial. "O que estamos tentando fazer é relançar o relacionamento de uma forma positiva", disse Welber Barral, secretário de Comércio Exterior no Brasil, em entrevista em Washington.
Sem dúvida, o comércio dos EUA com o Brasil é aproximadamente um décimo do tamanho do comércio com a China.
A economia da China tem projeção de crescimento em ritmo superior a 10% neste ano. O comércio exterior com a China foi de US$ 242 bilhões nos sete primeiros meses, na comparação com US$ 23,5 bilhões para o Brasil, segundo o Departamento de Comércio.
"Já estamos em guerra comercial com a China", disse Linda Sanchez, representante democrata pela Califórnia. "Mas a China dispara canhões e nós atirando com espingardas de ar comprimido."
A China continua sendo um mercado atraente para companhias dos EUA, segundo o levantamento do HSBC, conduzido de julho a setembro. Entre as companhias, 76% negociam com a China, enquanto 74% fazem negócios com a América Latina. O Canadá é um parceiro para 86% das companhias dos EUA sondadas.
Jornal “O Estado de S. Paulo”
Caderno: Economia
Argentinos esperam por inflação nas alturas
Expectativa da população é de que o índice chegue a 33,7% nos próximos 12 meses; governo fala em 9,9%
Ariel Palacios
Assustados com a escalada de preços, os argentinos acreditam que a inflação acumulada nos próximos 12 meses será de 33,7%. É o que indica uma pesquisa feita pela Universidade Di Tella, que investigou as expectativas de inflação da população.
O número representa um aumento desde o mês passado, quando a expectativa de inflação para os 12 meses seguintes era de 31,4%. Enquanto a população se angustia com a persistente alta nos preços - que tornou a Argentina o país com a segunda maior inflação do mundo (atrás da Venezuela) - o governo da presidente Cristina Kirchner nega a escalada inflacionária.
Segundo o ministro da Economia, Amado Boudou, os alertas sobre a inflação não passam de "conspirações" dos partidos da oposição.
O Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (Indec) anunciou na última sexta-feira que o índice de inflação de setembro foi de 0,7%. Mas economistas independentes e organizações de defesa dos consumidores consideram que a inflação oficial foi "maquiada" e o índice real seria ao menos o dobro: oscilaria entre 1,6% a 1,8%.
A inflação acumulada desde janeiro, de acordo com os dados do governo, seria de 8,3%. No entanto, para a consultoria Ecolatina, a inflação real acumulada no período janeiro-setembro deste ano chegaria a 19,6%.
Economistas independentes afirmam que 2010 será encerrado com uma inflação que oscilará entre 25% e 30%. Mas o governo calcula que será, no máximo, de 9,9%.
No entanto, nas recentes negociações salariais feitas com empresas pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), a maior central sindical do país, alinhada com a administração Kirchner, os sindicalistas exigiram (e obtiveram) altas salariais entre 25% a 30%, porcentuais mais próximos dos cálculos de inflação das consultorias independentes que do índice elaborado pelo Indec.
Desde janeiro de 2007, o órgão - que sofre férrea e controvertida intervenção do governo Kirchner - é acusado por empresários, associações de consumidores, economistas e pela própria população de "maquiar" os dados de inflação.
A possível camuflagem da escalada inflacionária argentina também preocupa a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que, em setembro, anunciou reconhecer a falta de credibilidade do Indec. Mais recentemente foi a vez do Fundo Monetário Internacional (FMI) criticar a medição oficial da inflação argentina.
Empresários reunidos nesta semana em Mar del Plata no principal colóquio empresarial anual do país pediram que o governo tome medidas para deter a escalada da inflação
PARA LEMBRAR
Governo é acusado de maquiar dados
Em 2007, o então presidente argentino, Néstor Kirchner (casado com a atual presidente, Cristina), demitiu uma das chefes de departamento do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), que estava no cargo havia 15 anos. Foi o ponto de partida para a intervenção do governo na entidade.
América Latina, sua hora e sua vez
Paulo Paiva
A América Latina sai da crise melhor do que entrou. As taxas de crescimento médias de suas economias eram mais modestas do que a média mundial e inferiores às taxas das economias asiáticas. No pós-crise o conjunto das economias latino-americanas cresce mais acentuadamente do que a média mundial. Espera-se em 2010 um crescimento para a região de 5,7%, ante 4,8% para a economia mundial. Brasil, Chile, Colômbia e Peru, que dependem muito do mercado de commodities, se saem melhor. México tem o seu destino preso ao desempenho da economia americana e Venezuela - a exceção - se mantém em recessão.
A forte resistência das economias da região à crise financeira decorreu de três fatores.
Primeiro, as reformas econômicas realizadas no passado recente e a consistência das políticas macroeconômicas tornaram essas economias mais sólidas e menos vulneráveis a choques externos. Em quase todos esses países foram realizadas reformas que consolidaram o sistema financeiro, fortaleceram os mercados de capitais e estimularam o livre comércio. Ademais, foi dada mais transparência à execução orçamentária, com maior rigor fiscal. Os fundamentos das políticas macroeconômicas foram consagrados, com controle eficaz da inflação, recuperação do papel da política monetária, maior equilíbrio fiscal, redução da dívida pública em proporção ao PIB e flexibilidade na política cambial com predominância de flutuação nas taxas de câmbio.
Exceto pela política cambial, todas as reformas e medidas estavam consolidadas na agenda chamada Consenso de Washington, que foi tão severamente criticada. A adoção dessa agenda foi crucial para proteger as economias contra crises financeiras.
Segundo, a expansão do mercado e o aumento dos preços de commodities, favorecendo os termos de trocas, estimularam o rápido crescimento econômico. Uma experiência que Prebisch possivelmente não imaginaria pudesse vir a acontecer. As condições favoráveis do mercado internacional impulsionaram o crescimento da renda e do consumo. Crescimento do PIB, com baixa inflação, resultou em aumento do poder aquisitivo de parcela maior da população. Em alguns países, como no caso do México e do Brasil, políticas de transferência de renda contribuíram também para a expansão do consumo doméstico.
Terceiro, as medidas anticíclicas tomadas imediatamente após o início da crise, visando a restabelecer o crédito e a estimular o consumo, tanto no âmbito monetário quanto fiscal, foram bastante eficazes. O resultado de tudo isso foi um impacto negativo de curta extensão temporal. Taxas negativas de variação do PIB duraram aproximadamente três trimestres. A atividade econômica e o emprego retomaram rapidamente seus níveis pré-crise.
As perspectivas pós-crise são muito promissoras, quer seja pelas oportunidades no mercado de commodities, que indicam certa estabilidade nos preços relevantes para as exportações da região, quer seja pelo desempenho do mercado doméstico de consumo. Neste contexto a região tem recebido um fluxo crescente de capitais. De fato, a oferta de capitais para os países latino-americanos tem crescido muito rapidamente, a custos relativamente mais baixos. De um lado, em razão da abundante oferta de crédito disponível para as economias emergentes; de outro lado, atraídos pelas taxas de juros mais altas na região, se comparadas às das economias mais avançadas.
A disponibilidade de capitais a custos relativamente mais baixos resulta em oportunidade para o crescimento, mas também representa risco futuro de proporções acentuadas. Moeda doméstica apreciada e taxas de juros mais baixas são atrativos para a alavancagem do sistema bancário regional, principalmente para bancos médios. A entrada de capitais externos na América Latina como proporção do PIB este ano já ultrapassa 5%, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), dos quais investimentos diretos representam menos da metade.
Para mitigar os riscos da elevada entrada de capitais na América Latina, há necessidade urgente de revisão dos critérios de adequação de capital e de outras medidas complementares de supervisão financeira. Seria oportuno um esforço de coordenação entre os bancos centrais latino-americanos para adotarem critérios comuns, embora independentes, de supervisão sobre os fluxos de capital na região. Ademais, urge retomar e implementar agenda de reformas que contribua para ampliar a competitividade das economias, principalmente em áreas que tenham impacto na redução dos custos e da ineficiência.
A gestão pública carece de um profundo choque de eficiência que, simultaneamente, contribua para um equilíbrio fiscal duradouro e estimule investimentos em infraestrutura. Finalmente, as medidas anticíclicas devem ser eliminadas rapidamente. As oportunidades estão aí, basta cuidá-las com responsabilidade e prudência para evitar que uma crise financeira futura interrompa o sonho latino-americano.
PRESIDENTE DO BDMG, FOI VICE-PRESIDENTE DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO DO BID (1999-2004) E MINISTRO DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO (1998-1999) E DO TRABALHO (1995-1998)
Jornais dos Países Membros do Mercosul
Paraguay “ABC”
Sección: Internacinales
Mercosur: Instan a inclusión de idiomas oficiales
MONTEVIDEO (AFP). Jóvenes de Paraguay, Argentina, Brasil, Colombia, Bolivia y Uruguay aprobaron ayer una declaración conjunta del Parlamento Juvenil del Mercosur, en la que instan a incluir en forma obligatoria en la educación media los idiomas oficiales de los países del bloque y su historia reciente.
Reunidos en la sede administrativa del Mercosur en Montevideo, en la primera edición de este tipo de encuentro, los jóvenes pidieron “la inclusión de la enseñanza de los idiomas oficiales” de los países integrantes del bloque, en alusión al castellano y al portugués, sin mencionar al guaraní, una de las lenguas madres del Paraguay.
Asimismo, abogaron por la “integración de todos los alumnos indistintamente de su sector social, etnia y/o capacidad”, por un “presupuesto equitativo para la educación” y por la implementación de “equipos multidisciplinarios con psicólogos y pedagogos” para acompasar el seguimiento educativo.
Demandaron “el tratamiento de temáticas relacionadas con el pasado reciente de Latinoamérica”, entre ellas los “golpes de Estado”, la creación de proyectos “para la preservación del medio ambiente” e incrementar la “educación sexual”.
Reunidos bajo el lema “La escuela media que queremos”, asistieron al encuentro más de 100 estudiantes de los cuatro países miembros plenos del Mercosur (Paraguay, Argentina, Brasil y Uruguay), más jóvenes de Bolivia y Colombia, asociados al bloque regional.
Uruguay ‘El Pais”
Sección: Política Nacional
Lacalle expone sobre el Código Aduanero regional
El senador nacionalista y ex presidente Luis Alberto Lacalle, realizará mañana a la hora 16 en una sesión especial de la Cámara, una exposición sobre el Código Aduanero del Mercosur y la legislación portuaria uruguaya. En esa misma sesión, el Senado dará ingreso al proyecto de Presupuesto, que la semana pasada se aprobó en Diputados.
Caderno: Brasil
Prioridades na relação com o exterior
Sergio Leo
Os ministérios da Fazenda e de Relações Exteriores dividirão, neste fim de governo, o protagonismo na atuação da política externa em matéria econômica. Em um campo, pelo menos, nenhum dos dois ministérios deverá exercer muita atividade: as negociações multilaterais de comércio, na OMC, ou negociações entre Mercosul e outros parceiros, como União Europeia, estão em modo inercial: haverá reuniões de técnicos e autoridades para discutir o assunto, mas ninguém em Brasília põe muita fé em resultados práticos.
O mesmo não acontecerá nas negociações sobre as ameaças de ressurgimento da crise financeira. As reuniões para debater o tema não só contarão até com a presença do presidente Lula, que vai à Coreia para a reunião do G-20, em novembro, como têm recebido forte atenção, especialmente do Ministério da Fazenda. Trata-se de descobrir como aproveitar esse esforço diplomático, de coordenação de políticas econômicas, para evitar a "guerra cambial" denunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ou, dada a inflexibilidade dos governos envolvidos, tentar reduzir os danos desse salve-se quem puder em que se transformaram as políticas econômicas mundiais.
Não será possível atribuir ao fantasioso antiamericanismo do Itamaraty o novo foco potencial de atritos entre Brasil e EUA: os americanos querem aproveitar a reunião do G-20 para concentrar forças na pressão contra a China, acusada de depreciar artificialmente sua moeda e inundar de produtos baratos os mercados mundiais. Os brasileiros, embora também temam as hordas de importados chineses, veem com maior preocupação, no momento, as medidas dos EUA para combater o próprio desaquecimento econômico.
No esforço para estimular o consumo e evitar a deflação, os EUA combinam política de juros baixíssimos e derrame de dólares na economia, sob a forma de recompra de títulos públicos ou pela liberação de depósitos dos bancos retidos pela autoridade monetária. É uma política que desvalorizará ainda mais o dólar; um favor aos exportadores americanos e uma ameaça a produtores de países como o Brasil.
O Brasil vai ao G-20 com um discurso contrário às medidas unilaterais e descoordenadas, e favorável a maior diálogo e articulação entre as políticas monetárias dos países, para uma estratégia global contra a crise. O ambiente de desconfianças e falta de disposição pode ser medido, porém, pelo constrangimento recente das autoridades anfitriãs, na Coreia, acusadas pelo Japão de não ter autoridade para presidir o encontro do G-20. Tudo porque o governo coreano partiu para políticas ativas de intervenção no mercado de câmbio tentando evitar a valorização da moeda nacional.
Com a guerra cambial em período de movimentação de tropas, os esforços internacionais parecem pouco produtivos, o que aumenta a importância das políticas internas para tratar do problema. No Brasil, a maior discussão é sobre como reduzir a taxa de juros, que atrai investidores, inflaciona o país de moeda estrangeira e valoriza ainda mais o real, agravando a perda de competitividade nacional. Os candidatos à Presidência da República são vagos e às vezes contraditórios ao falar do problema, que parece exigir algum aperto nos gastos públicos e maior controle da entrada de capital no país.
Um dos pontos interessantes que deveriam ser cobrados dos candidatos nos próximos debates públicos é a política para o BNDES, forte componente da estratégia de crescimento do atual governo. Economistas ligados aos tucanos acusam o banco de sabotar a política monetária, ao emprestar com juros subsidiados a poucos investidores, obrigando o Banco Central a elevar mais do que deveria as taxas de juros cobradas do restante, para manter a eficácia da política de contenção da demanda inflacionária. No campo governista, não se fala em mudanças nessa política, enquanto personagens ligados à candidata se alternam entre anunciar uma iminente política de contenção de gastos e declarar que ela não é tão necessária assim.
Nesse cenário de suspeitas e choques entre governos, lá fora, e de indefinição e disputa eleitoral, no país, faz bem o Itamaraty em aproveitar o pouco tempo que resta ao governo atual insistindo em reforçar os laços entre os países do Mercosul, antes que as tendências de fragmentação comprometam o frágil projeto de bloco regional.
Como antecipou o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, ao Valor, o Brasil, na presidência temporária do Mercosul, quer fixar neste ano cronogramas e tomar decisões para aumentar a coordenação e integração, entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, em matéria de tarifas de importação, regras para serviços, compras governamentais e investimentos. É muito, mas ainda insuficiente para conter as ameaças à competitividade das exportações brasileiras, que terão de buscar nas políticas internas as medidas para enfrentar a concorrência estrangeira.
Caderno: Internacional
Cresce interesse de investidores americanos pela AL
Os legisladores americanos consomem muito tempo debatendo relações comerciais com a China. Mas importadoras e exportadoras nos EUA sondadas num levantamento mostram um foco diferente: estão considerando cada vez mais a América Latina para oportunidades comerciais.
O crescimento econômico no Brasil e em outros países sul-americanos tornou a região a mais promissora para comércio exterior nos próximos seis meses, segundo um relatório elaborado pelo HSBC, o maior banco da Europa. O banco conduziu um levantamento com mais de 5 mil companhias, incluindo 300 nos EUA.
Na América Latina, "o consumo interno está em alta, e aqueles países exportam muito", disse William Nowicki, vice-presidente executivo do HSBC em Nova York. "O comércio exterior continua um dos propulsores estratégicos do crescimento econômico global."
O terceiro levantamento realizado pelo HSBC para avaliar a confiança no comércio exterior mostra que 30% das empresas dos EUA sondadas creem que a América Latina oferece a melhor oportunidade para crescimento ao longo dos próximos seis meses; 25% identificaram a China; e 15%, o Canadá.
A expansão da economia da América Latina é estimada em 4,8% neste ano, após queda de 1,8% em 2009, segundo projetou o FMI em julho. A economia do Brasil deve crescer 7,1% e a do México, de 4,5%.
O Brasil disse que está tentando fortalecer os seus laços comerciais com os EUA, em parte para contrapor a expansão do comércio em matérias-primas com a China, que substituiu os EUA como seu principal parceiro comercial. "O que estamos tentando fazer é relançar o relacionamento de uma forma positiva", disse Welber Barral, secretário de Comércio Exterior no Brasil, em entrevista em Washington.
Sem dúvida, o comércio dos EUA com o Brasil é aproximadamente um décimo do tamanho do comércio com a China.
A economia da China tem projeção de crescimento em ritmo superior a 10% neste ano. O comércio exterior com a China foi de US$ 242 bilhões nos sete primeiros meses, na comparação com US$ 23,5 bilhões para o Brasil, segundo o Departamento de Comércio.
"Já estamos em guerra comercial com a China", disse Linda Sanchez, representante democrata pela Califórnia. "Mas a China dispara canhões e nós atirando com espingardas de ar comprimido."
A China continua sendo um mercado atraente para companhias dos EUA, segundo o levantamento do HSBC, conduzido de julho a setembro. Entre as companhias, 76% negociam com a China, enquanto 74% fazem negócios com a América Latina. O Canadá é um parceiro para 86% das companhias dos EUA sondadas.
Jornal “O Estado de S. Paulo”
Caderno: Economia
Argentinos esperam por inflação nas alturas
Expectativa da população é de que o índice chegue a 33,7% nos próximos 12 meses; governo fala em 9,9%
Ariel Palacios
Assustados com a escalada de preços, os argentinos acreditam que a inflação acumulada nos próximos 12 meses será de 33,7%. É o que indica uma pesquisa feita pela Universidade Di Tella, que investigou as expectativas de inflação da população.
O número representa um aumento desde o mês passado, quando a expectativa de inflação para os 12 meses seguintes era de 31,4%. Enquanto a população se angustia com a persistente alta nos preços - que tornou a Argentina o país com a segunda maior inflação do mundo (atrás da Venezuela) - o governo da presidente Cristina Kirchner nega a escalada inflacionária.
Segundo o ministro da Economia, Amado Boudou, os alertas sobre a inflação não passam de "conspirações" dos partidos da oposição.
O Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (Indec) anunciou na última sexta-feira que o índice de inflação de setembro foi de 0,7%. Mas economistas independentes e organizações de defesa dos consumidores consideram que a inflação oficial foi "maquiada" e o índice real seria ao menos o dobro: oscilaria entre 1,6% a 1,8%.
A inflação acumulada desde janeiro, de acordo com os dados do governo, seria de 8,3%. No entanto, para a consultoria Ecolatina, a inflação real acumulada no período janeiro-setembro deste ano chegaria a 19,6%.
Economistas independentes afirmam que 2010 será encerrado com uma inflação que oscilará entre 25% e 30%. Mas o governo calcula que será, no máximo, de 9,9%.
No entanto, nas recentes negociações salariais feitas com empresas pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), a maior central sindical do país, alinhada com a administração Kirchner, os sindicalistas exigiram (e obtiveram) altas salariais entre 25% a 30%, porcentuais mais próximos dos cálculos de inflação das consultorias independentes que do índice elaborado pelo Indec.
Desde janeiro de 2007, o órgão - que sofre férrea e controvertida intervenção do governo Kirchner - é acusado por empresários, associações de consumidores, economistas e pela própria população de "maquiar" os dados de inflação.
A possível camuflagem da escalada inflacionária argentina também preocupa a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que, em setembro, anunciou reconhecer a falta de credibilidade do Indec. Mais recentemente foi a vez do Fundo Monetário Internacional (FMI) criticar a medição oficial da inflação argentina.
Empresários reunidos nesta semana em Mar del Plata no principal colóquio empresarial anual do país pediram que o governo tome medidas para deter a escalada da inflação
PARA LEMBRAR
Governo é acusado de maquiar dados
Em 2007, o então presidente argentino, Néstor Kirchner (casado com a atual presidente, Cristina), demitiu uma das chefes de departamento do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), que estava no cargo havia 15 anos. Foi o ponto de partida para a intervenção do governo na entidade.
América Latina, sua hora e sua vez
Paulo Paiva
A América Latina sai da crise melhor do que entrou. As taxas de crescimento médias de suas economias eram mais modestas do que a média mundial e inferiores às taxas das economias asiáticas. No pós-crise o conjunto das economias latino-americanas cresce mais acentuadamente do que a média mundial. Espera-se em 2010 um crescimento para a região de 5,7%, ante 4,8% para a economia mundial. Brasil, Chile, Colômbia e Peru, que dependem muito do mercado de commodities, se saem melhor. México tem o seu destino preso ao desempenho da economia americana e Venezuela - a exceção - se mantém em recessão.
A forte resistência das economias da região à crise financeira decorreu de três fatores.
Primeiro, as reformas econômicas realizadas no passado recente e a consistência das políticas macroeconômicas tornaram essas economias mais sólidas e menos vulneráveis a choques externos. Em quase todos esses países foram realizadas reformas que consolidaram o sistema financeiro, fortaleceram os mercados de capitais e estimularam o livre comércio. Ademais, foi dada mais transparência à execução orçamentária, com maior rigor fiscal. Os fundamentos das políticas macroeconômicas foram consagrados, com controle eficaz da inflação, recuperação do papel da política monetária, maior equilíbrio fiscal, redução da dívida pública em proporção ao PIB e flexibilidade na política cambial com predominância de flutuação nas taxas de câmbio.
Exceto pela política cambial, todas as reformas e medidas estavam consolidadas na agenda chamada Consenso de Washington, que foi tão severamente criticada. A adoção dessa agenda foi crucial para proteger as economias contra crises financeiras.
Segundo, a expansão do mercado e o aumento dos preços de commodities, favorecendo os termos de trocas, estimularam o rápido crescimento econômico. Uma experiência que Prebisch possivelmente não imaginaria pudesse vir a acontecer. As condições favoráveis do mercado internacional impulsionaram o crescimento da renda e do consumo. Crescimento do PIB, com baixa inflação, resultou em aumento do poder aquisitivo de parcela maior da população. Em alguns países, como no caso do México e do Brasil, políticas de transferência de renda contribuíram também para a expansão do consumo doméstico.
Terceiro, as medidas anticíclicas tomadas imediatamente após o início da crise, visando a restabelecer o crédito e a estimular o consumo, tanto no âmbito monetário quanto fiscal, foram bastante eficazes. O resultado de tudo isso foi um impacto negativo de curta extensão temporal. Taxas negativas de variação do PIB duraram aproximadamente três trimestres. A atividade econômica e o emprego retomaram rapidamente seus níveis pré-crise.
As perspectivas pós-crise são muito promissoras, quer seja pelas oportunidades no mercado de commodities, que indicam certa estabilidade nos preços relevantes para as exportações da região, quer seja pelo desempenho do mercado doméstico de consumo. Neste contexto a região tem recebido um fluxo crescente de capitais. De fato, a oferta de capitais para os países latino-americanos tem crescido muito rapidamente, a custos relativamente mais baixos. De um lado, em razão da abundante oferta de crédito disponível para as economias emergentes; de outro lado, atraídos pelas taxas de juros mais altas na região, se comparadas às das economias mais avançadas.
A disponibilidade de capitais a custos relativamente mais baixos resulta em oportunidade para o crescimento, mas também representa risco futuro de proporções acentuadas. Moeda doméstica apreciada e taxas de juros mais baixas são atrativos para a alavancagem do sistema bancário regional, principalmente para bancos médios. A entrada de capitais externos na América Latina como proporção do PIB este ano já ultrapassa 5%, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), dos quais investimentos diretos representam menos da metade.
Para mitigar os riscos da elevada entrada de capitais na América Latina, há necessidade urgente de revisão dos critérios de adequação de capital e de outras medidas complementares de supervisão financeira. Seria oportuno um esforço de coordenação entre os bancos centrais latino-americanos para adotarem critérios comuns, embora independentes, de supervisão sobre os fluxos de capital na região. Ademais, urge retomar e implementar agenda de reformas que contribua para ampliar a competitividade das economias, principalmente em áreas que tenham impacto na redução dos custos e da ineficiência.
A gestão pública carece de um profundo choque de eficiência que, simultaneamente, contribua para um equilíbrio fiscal duradouro e estimule investimentos em infraestrutura. Finalmente, as medidas anticíclicas devem ser eliminadas rapidamente. As oportunidades estão aí, basta cuidá-las com responsabilidade e prudência para evitar que uma crise financeira futura interrompa o sonho latino-americano.
PRESIDENTE DO BDMG, FOI VICE-PRESIDENTE DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO DO BID (1999-2004) E MINISTRO DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO (1998-1999) E DO TRABALHO (1995-1998)
Jornais dos Países Membros do Mercosul
Paraguay “ABC”
Sección: Internacinales
Mercosur: Instan a inclusión de idiomas oficiales
MONTEVIDEO (AFP). Jóvenes de Paraguay, Argentina, Brasil, Colombia, Bolivia y Uruguay aprobaron ayer una declaración conjunta del Parlamento Juvenil del Mercosur, en la que instan a incluir en forma obligatoria en la educación media los idiomas oficiales de los países del bloque y su historia reciente.
Reunidos en la sede administrativa del Mercosur en Montevideo, en la primera edición de este tipo de encuentro, los jóvenes pidieron “la inclusión de la enseñanza de los idiomas oficiales” de los países integrantes del bloque, en alusión al castellano y al portugués, sin mencionar al guaraní, una de las lenguas madres del Paraguay.
Asimismo, abogaron por la “integración de todos los alumnos indistintamente de su sector social, etnia y/o capacidad”, por un “presupuesto equitativo para la educación” y por la implementación de “equipos multidisciplinarios con psicólogos y pedagogos” para acompasar el seguimiento educativo.
Demandaron “el tratamiento de temáticas relacionadas con el pasado reciente de Latinoamérica”, entre ellas los “golpes de Estado”, la creación de proyectos “para la preservación del medio ambiente” e incrementar la “educación sexual”.
Reunidos bajo el lema “La escuela media que queremos”, asistieron al encuentro más de 100 estudiantes de los cuatro países miembros plenos del Mercosur (Paraguay, Argentina, Brasil y Uruguay), más jóvenes de Bolivia y Colombia, asociados al bloque regional.
Uruguay ‘El Pais”
Sección: Política Nacional
Lacalle expone sobre el Código Aduanero regional
El senador nacionalista y ex presidente Luis Alberto Lacalle, realizará mañana a la hora 16 en una sesión especial de la Cámara, una exposición sobre el Código Aduanero del Mercosur y la legislación portuaria uruguaya. En esa misma sesión, el Senado dará ingreso al proyecto de Presupuesto, que la semana pasada se aprobó en Diputados.
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